segunda-feira, 29 de março de 2010

Quem me quiser


"Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.

Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.

Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.

Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.

Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente."


Rosa Lobato Faria


1 comentário:

  1. Cara Silvia,

    que bonito poema, de uma pessoa que fisicamente já não está entre nós, mas que deixou a sua marca, e deixou poemas / textos fantasticos.
    E claro, para a minha Geração os Onda Choc!!!
    Não se lembra-se, mas faz parte da minha infância.

    Mas que mais poderei dizer, apenas que a quiser terá que ser alguém muito especial, pq afinal você também especial. Não é qualquer pessoa que tem a sua capacidade de escrever, influenciar, a escrita ou mesmo a maneira de pensar. Não é perfeita, graças a Deus, mas é sensível, e uma qualidade que aprecio imenso nas mulheres, mais do que outra coisa qualquer, a inteligência.

    Você que por vezes anda por aqui tristinha, mande a tristeza fora, afinal uma pessoa como você não merece estar triste, merece sim estar feliz, e resumindo:

    Quem a quiser vai saber lhe cantar ao coração.

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